terça-feira, 14 de abril de 2020

Mea culpa

Ontem escrevi, aqui, um pequeno texto após a notícia do passamento de meu amigo Pintinho. Compartilhei, o texto, via Whatsapp, pois, felizmente, não sou inscrito em Face ou Insta (argh!). "Tenho" apenas a rede social do ódio, Twitter, para seguir as notícias sobre Fórmula 1 e outras efemérides que curto. O texto acabou sendo compreendido por diversos amigos meus como sendo uma homenagem ao Lara. Não tinha pensado nisso, homenagem. Apenas me deu vontade de escrever, como já fiz em dezenas de outras ocasiões nesse meu escanteado blog. A noticia que eu não queria receber me deixou triste. Muito triste. Hoje fui em seu velório e revi meus amigos do bar. Prometi uma visita. Espero, sinceramente, cumprir a promessa o quanto antes após essa merda dessa pandemia passar. 
Hoje, porém, o que me trouxe novamente ao teclado foi algo que me tocou durante o dia. Como disse, compartilhei via Whatsapp o texto de ontem para os grupos e pessoas que tem importância para mim. Esse compartilhamento gerou comentários. Algumas das pessoas que responderam ao post nunca viram o Pintinho na vida, mas me desejaram seus sinceros sentimentos. Lhes digo, para mim, um chorão inveterado, foi de tocar o coração.
Para cada comentário recebido, de cada pessoa amiga minha, existe uma boa história de amizade. Tenho falhado miseravelmente em ser amigo de meus amigos. Mas isso não me impede de lembrar de boas histórias e fazer meu mea culpa. Cito, abaixo, as histórias marcantes de pessoas que tiraram cinco minutos de seu tempo para comentar o post de ontem.
BINHARA: Ainda morava, eu, na Ivo Leão. Binhara mora na Sete de Abril (ou Vinte e Um?). A uns bons anos atrás, recebo uma ligação (ou mensagem, não lembro) do Diogo dizendo que estava na casa do Binhara. "Venha". Como morava a cerca de 3 quadras, claro que fui. Uísque, charuto, alguma cerveja e uma bela conversa com o dono da maison, Diogo e o amigo Jean. Do Binhara ainda temos o dia que nos conhecemos na casa do Chico, que morava na Atilio Bório. Voltamos a pé até nossas casas, meio chucos, mas muito falantes.
AIMORÉ: Foi no Atami, na casa do onipresente Chico. Aimoré tem casa perto do Chico. Estávamos churrasqueando, e o Aimoré foi até lá. De bicicleta. Nossas senhoras já haviam se recohido à alcova e ficamos nos embriagando deliciosamente. Lá pelas tantas, Chico, já bem alto, foi ao banheiro chamar o Hugo. Aimoré, das pessoas mais educadas que conheço, pediu licença e foi embora. Debaixo de chuva e meio ébrio. Diz a lenda que houve certa dificuldade para entrar em casa...
SHIRAI: Não sei se era bem o ambiente do amigo Rodrigo, mas certa vez, a uns 4 anos atrás, fomos para o Bar Luzitano, na João Gualberto. Bar de bairro raiz. Diogo estava nessa também. Não foi o melhor lugar que ele esteve, me confessou outro dia. O que me tocou foi que o Shirai se manteve impávido. Zero crítica ao local. Ao menos que me lembre.
BETO: Meu amigo Psique é contemporâneo do Pintinho. Junto com o Dudu formam o triunvirato do bar. Conheci ambos praticamente no mesmo dia. Memorável para mim, já disse ontem, foi nosso último churrasco em sua casa, em meados do ano passado. Apenas cerveja, carne e prosa. Não precisa mais nada.
COSTA: O noivado do rapaz. Que dia. Baldes de vinho de qualidade, donairosos e garbosos. Com tanta bebida boa, a conversa flui mais que naturalmente. Até o enrolar de língua. Nesse momento um sofá me chamou. Como não recuso convite fui até ele. Lembro de estar me avizinhando da fase REM quando fui levado ao carro. De resto, um aceno de mão ao anfitrião e o resmungo da patroa.
JANKE: Somos da época que dava para sair, tomar uns kissucos e voltar para casa sem maiores problemas. Era tão errado como é hoje em dia. Óbvio! Mas não é isso que vou discutir aqui. Vou lembrar apenas do dia que fomos em uma macarronada na casa de um amigo e voltamos para casa de carro. Ele, de carona, pedindo para eu ir devagar, pois estávamos meio ébrios. Eu tentando não passar de 30km/h para não assustar o amigo.
DIB: Rapaz, por onde começar? O que me vem à cabeça de imediato é a capacidade que o rapaz tem de bocejar. Mormente depois que nasceram os filhos. E a facilidade com o que o menino queima a largada. Certa vez, na praia, estávamos eu, ele, ainda solteiro, Fernanda, minha senhora, meu sogro e sogra. Assamos um nelore e bebemos muito. Na época o cidadão ainda pitava. A cada instante me lembrava: "tenho que ir para Camboriú daqui a pouco. Mulheres, né?!". "Aham, vai sim. Nesse estado", retruquei. "Nada. Estou bem", concluiu ele. Fedendo a pinga, cigarro e carvão, o rapaz foi para o quarto de hóspedes. Possivelmente para tomar banho e sair, pensei eu. Fui dormir e no dia seguinte encontrei o eleito ainda fedendo a pinga, cigarro e carvão. E com um bafo que parecia que havia defecado pela boca.
BARRADAS: Do Luciano lembro de seu casamento. Fui solito, pois a Fernanda tinha o casamento de seu tio em Caxias do Sul. Meu par foi o PP. Sentamos em uma mesa cheia de figurões do mundo jurídico. Rafael Greca de Macedo se fez presente à boda. Como o assunto na mesa não rendia, eu e PP optamos por tomar kissuco. O que fizemos muito bem, diga-se.
DONI: O Professor Geraldo Doni tem assento quando lembramos dos cozidos que o Raposo fazia no Açores. Foram diversos convescotes, mais ouvindo suas histórias que contando as (poucas) minhas.
Como disse lá em cima, mencionei histórias deliciosas e pontuais de amigos que mencionaram meu texto de ontem. Foi como um apanhado geral para lembrar que temos várias passagens para contar e que, no meu ver, merecem ser conhecidas e relembradas. Sempre.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Pintinho

Casei no ano da graça de 2004, com 30 anos. E, desde os 16, frequentava botecos na cidade onde sempre vivi antes das bodas. Como mudei, fiquei meio perdido. Afinal, fui morar em Curitiba, grande urbe e com bares a cada esquina. Estabelecimentos raiz, esses que me refiro. Não aqueles onde o cabra vai para tomar uma variação de Gin com qualquer coisa porque é "hypster". Meus sais! 
Bom, como estava dizendo, estava perdido, pois não havia um boteco com o qual eu me identificasse.
Certo dia, porém, o Gustavo, amigo meu, convidou para ir no boteco que o pai dele, Dr. Guto, frequentava. Cantina Açores. Ali na Augusto Severo esquina com aquela rua que sempre esqueço o nome, mas que é paralela à Alberto Foloni, no Juvevê.
Timidamente comecei a frequentar o lugar. Lógico que tive o privilégio de chegar e já sentar na janelinha. "Você não é o amigo do Gustavo?". "Sim, sou eu". "Então vamos lá na mesa tomar umas com a gente!". E assim comecei a frequentar a mesa da diretoria. Nessa narrativa, esse é o ano de 2007.
Fiz dezenas de amizades que duram até hoje. Me afastei um pouco, do bar, pois voltei a morar na minha cidade, Colombo. É perto, na verdade. Mas antes eu morava a 4 quadras da bodega. Nem precisava pensar muito para sair de casa. Lembrando agora, fico surpreso: ia no Açores toda sexta, sábado e domingo. Tempo bom!
Boteco é lugar de amizade, de gente feliz. Certa vez um amigo meu, que não é do boteco, me disse: "em bar não se faz amigo". Bom, não preciso dizer que faz uns 5 anos que não saio para tomar umas com esse cara. Última vez que o vi estava passeando com o cachorro, eis que mora em apartamento, e o animal precisava cagar. Sempre achei isso meio deprimente, levar o cão para fazer cocô.
Devo à turma do Açores grandes alegrias da minha vida. Churrascos atrás do restaurante; festejos na casa do João Raposo, o dono; convescotes na chácara do Denizart; merendas na chácara dos magistrados; assados no tambor na casa do Beto; cozidos portugueses. Chegamos ao cúmulo, certa vez, de pedir pizza para um delivery para entregar no balcão da Cantina Açores. Claro que o João Raposo também se esbaldou. "Mas porque vocês pediram pizza?", perguntou ele. "Porque não tem nada de bom para comer!", disse alguém. Em qual outro bar daria pra fazer isso? Nenhum.
As estrepolias que mencioneu acima, posso afirmar, sem medo de errar, tiveram início, para mim, na casa do Pintinho, lá na Mascarenhas de Moraes. Digo para mim, pois conheço essa turma desde 2007. Só que essa turma já se conhece desde sempre. Portanto, para mim, o começo dos encontros se deu na casa do Lara. Pintinho é o apelido, pois o nome é Nelson Pinto de Lara. Peta também é outro apelido. Engenhoso, diga-se.
Explico.
Depois que o Pintinho fica íntimo de ti, ou seja, depois de umas duas horas de conversa, ele pega sua (dele) mão direita, faz uma espécie de cone de cabeça para baixo, aponta para suas vergonhas (dele, também. Adoro essa expressão, vergonhas) e solta: "Peta?"O gesto e a pergunta significam se o espectador não estava a fim de fazer uma felatio. Até onde conheço, ninguém aceitou. Até hoje.
Até hoje, pois ninguém mais será interpelado se deseja uma "peta". Hoje nosso amigo Pintinho nos deixou. Depois de uma briga feia com diversos problemas de saúde, Lara foi tentar convencer alguém no plano celestial a lhe conceder uma "peta".
Quando meu amigo Dudu me deu a noticia, à pouco, fui no meu quarto e peguei um terço que Pintinho me deu em 2013, quando eu e minha esposa passamos por um momento muito difícil depois do nascimento de nossa pequena Cecília. Também revi um vídeo, com meu filho Heitor, feito em um churrasco na casa do Beto. Estavamos eu, Beto, Dudu, Pintinho e meu filhote, que arrepiou tudo por lá. Foi nosso último churrasco. O Heitor - que tem 4 anos - me disse que quer fazer aquilo de novo. Disse para ele que faremos, sim, mas sem o tio Pintinho. Que está em outro lugar, festejando, com sua irmãzinha, Cecília.