segunda-feira, 13 de abril de 2020

Pintinho

Casei no ano da graça de 2004, com 30 anos. E, desde os 16, frequentava botecos na cidade onde sempre vivi antes das bodas. Como mudei, fiquei meio perdido. Afinal, fui morar em Curitiba, grande urbe e com bares a cada esquina. Estabelecimentos raiz, esses que me refiro. Não aqueles onde o cabra vai para tomar uma variação de Gin com qualquer coisa porque é "hypster". Meus sais! 
Bom, como estava dizendo, estava perdido, pois não havia um boteco com o qual eu me identificasse.
Certo dia, porém, o Gustavo, amigo meu, convidou para ir no boteco que o pai dele, Dr. Guto, frequentava. Cantina Açores. Ali na Augusto Severo esquina com aquela rua que sempre esqueço o nome, mas que é paralela à Alberto Foloni, no Juvevê.
Timidamente comecei a frequentar o lugar. Lógico que tive o privilégio de chegar e já sentar na janelinha. "Você não é o amigo do Gustavo?". "Sim, sou eu". "Então vamos lá na mesa tomar umas com a gente!". E assim comecei a frequentar a mesa da diretoria. Nessa narrativa, esse é o ano de 2007.
Fiz dezenas de amizades que duram até hoje. Me afastei um pouco, do bar, pois voltei a morar na minha cidade, Colombo. É perto, na verdade. Mas antes eu morava a 4 quadras da bodega. Nem precisava pensar muito para sair de casa. Lembrando agora, fico surpreso: ia no Açores toda sexta, sábado e domingo. Tempo bom!
Boteco é lugar de amizade, de gente feliz. Certa vez um amigo meu, que não é do boteco, me disse: "em bar não se faz amigo". Bom, não preciso dizer que faz uns 5 anos que não saio para tomar umas com esse cara. Última vez que o vi estava passeando com o cachorro, eis que mora em apartamento, e o animal precisava cagar. Sempre achei isso meio deprimente, levar o cão para fazer cocô.
Devo à turma do Açores grandes alegrias da minha vida. Churrascos atrás do restaurante; festejos na casa do João Raposo, o dono; convescotes na chácara do Denizart; merendas na chácara dos magistrados; assados no tambor na casa do Beto; cozidos portugueses. Chegamos ao cúmulo, certa vez, de pedir pizza para um delivery para entregar no balcão da Cantina Açores. Claro que o João Raposo também se esbaldou. "Mas porque vocês pediram pizza?", perguntou ele. "Porque não tem nada de bom para comer!", disse alguém. Em qual outro bar daria pra fazer isso? Nenhum.
As estrepolias que mencioneu acima, posso afirmar, sem medo de errar, tiveram início, para mim, na casa do Pintinho, lá na Mascarenhas de Moraes. Digo para mim, pois conheço essa turma desde 2007. Só que essa turma já se conhece desde sempre. Portanto, para mim, o começo dos encontros se deu na casa do Lara. Pintinho é o apelido, pois o nome é Nelson Pinto de Lara. Peta também é outro apelido. Engenhoso, diga-se.
Explico.
Depois que o Pintinho fica íntimo de ti, ou seja, depois de umas duas horas de conversa, ele pega sua (dele) mão direita, faz uma espécie de cone de cabeça para baixo, aponta para suas vergonhas (dele, também. Adoro essa expressão, vergonhas) e solta: "Peta?"O gesto e a pergunta significam se o espectador não estava a fim de fazer uma felatio. Até onde conheço, ninguém aceitou. Até hoje.
Até hoje, pois ninguém mais será interpelado se deseja uma "peta". Hoje nosso amigo Pintinho nos deixou. Depois de uma briga feia com diversos problemas de saúde, Lara foi tentar convencer alguém no plano celestial a lhe conceder uma "peta".
Quando meu amigo Dudu me deu a noticia, à pouco, fui no meu quarto e peguei um terço que Pintinho me deu em 2013, quando eu e minha esposa passamos por um momento muito difícil depois do nascimento de nossa pequena Cecília. Também revi um vídeo, com meu filho Heitor, feito em um churrasco na casa do Beto. Estavamos eu, Beto, Dudu, Pintinho e meu filhote, que arrepiou tudo por lá. Foi nosso último churrasco. O Heitor - que tem 4 anos - me disse que quer fazer aquilo de novo. Disse para ele que faremos, sim, mas sem o tio Pintinho. Que está em outro lugar, festejando, com sua irmãzinha, Cecília.





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